Reflexão litúrgica: terça-feira, 19/03/2024 – Solenidade de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, Padroeiro da Igreja Universal – 5ª Semana da Quaresma

18 de Março de 2024

"Reflexão litúrgica: terça-feira, 19/03/2024 – Solenidade de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, Padroeiro da Igreja Universal – 5ª Semana da Quaresma"

SÃO JOSÉ, ESPOSO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA, PADROEIRO DA IGREJA UNIVERSAL 

São José é o último patriarca que recebe as comunicações do Senhor por meio da humildade via dos sonhos. Assim como o antigo José, é o homem justo e fiel que Deus pôs como guarda de sua casa. Ele liga Jesus, rei messiânico, à descendência de Davi. Esposo de Maria e pai amoroso, guia a Sagrada Família na fuga e no retorno do Egito, refazendo o caminho do Êxodo. Pio IX declarou-o Patrono da Igreja Universal. 

São José é uma pessoa extraordinária, tão próxima da nossa condição humana e que as vezes até esquecidas, que não aparecem nas capas de jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último desfile, mas, sem dúvida, estão hoje escrevendo os acontecimentos decisivos da nossa história. Todos nós podemos encontrar em São José, o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana, discreto e escondido, um intercessor, um apoio e um guia nos momentos de dificuldade.?São José lembra-nos que todos aqueles que estão aparentemente escondidos ou sem importância, mas que têm um papel ímpar na história da salvação. 

Para entender a importância da vida de São José na nossa espiritualidade, sugiro a leitura da Carta apostólica Patris corde (Com Coração de Pai), um ano dedicado a São José, do Papa Francisco, de 08/12/2020, no site do Vaticano. 

Na Liturgia desta terça-feira, Solenidade de São José, vemos, na 1ª Leitura (2Sm 7,4-5a.12-14a.16), que Deus promete preparar um lugar para seu povo, onde todos viverão em segurança e paz. O rei Davi quer construir um templo, pois morava numa casa luxuosa e a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus no meio do Povo, estava numa simples tenda, debaixo de uma lona. O profeta Natã recorda a Davi tudo o que Deus realizou por ele e por cada um de nós. Então, lhe diz: "Vai e faz tudo o que tens no coração, porque o Senhor está contigo". Deus lhe promete um filho que garantirá a prosperidade, a paz e a justiça. Essa promessa se concretizará em Jesus que construirá sua Igreja com pedras vivas. Nós somos esta Igreja, Deus realizou grandes feitos por cada um de nós. E nós, o que lhe retribuímos? 

Na 2ª Leitura (Rm 4,13.16-18.22), o Apóstolo Paulo nos apresenta o exemplo de Abraão, dizendo que não foram suas obras que o tornaram modelo para nós, mas sua adesão total e incondicional a Deus e aos seus projetos. 

Este texto nos ajuda reler a vida de São José à luz da fé de Abraão, de fato, ele é filho de Davi e descendente de Abraão. É justo, daquela justiça que vem da fé, nisto, portanto manifesta-se verdadeiro descendente de Abraão e portador das promessas. Como Abraão, José acreditou na palavra que lhe foi dita e esperou contra toda esperança. 

No Evangelho (Mt 1,16.18-21.24a), vemos a plena realização da promessa: Jesus é o "Deus-conosco" que vem ao encontro dos seres humanos para lhes apresentar uma proposta de Salvação. Ele nascerá de Maria, esposa de um homem bom, justo e honrado chamado José, descendente de Davi. Jesus é filho de Davi segundo a carne, embora seu nascimento virginal exclua a obra do homem, e é juridicamente filho de Davi só por meio de José que, fisicamente, não é seu pai. José, que é justo, procura em todas as coisas o cumprimento da vontade de Deus, reconhece Jesus como seu filho e, dando-lhe o nome, lhe transmite todos os direitos de um descendente de Davi. O fato demostra como é Deus que opera a salvação, mas também como ela não se concretiza na terra sem a cooperação do homem. 

Jesus não é apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco. Ele inicia nova história, em que os homens serão salvos de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade. 

A narrativa da situação de Maria e José não deve ser vista como uma descrição de fatos históricos, mas uma catequese sobre Jesus: 

- Jesus vem de Deus: sua origem é divina. Maria encontra-se grávida por obra do Espírito Santo. 

- Missão de Jesus: o nome ‘Jesus’ significa ‘Deus salva’. Ele mostra que vem de Deus com uma proposta de salvação. 

- O seu Nascimento de uma ‘Virgem’ afirma que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas, enviado por Deus para restaurar o reino de Davi. 

- José desempenha um papel importante: Pela sua obediência silenciosa, realizam-se os Planos de Deus. Confiando na palavra de Deus, penetra na obscuridade do Mistério divino e se incorpora, com plena disponibilidade, no plano salvador de Deus. 

- A Virgem Maria nos convida a admirar o que o Senhor operou nela e a acreditar na vitória da vida onde nós só enxergamos sinais de morte. 

Opcional 

No Evangelho (Lc 2,41-41), vemos que desde adolescente, Jesus deixa claro que sua vida e opções serão guiadas pela sintonia com o Pai. O fato de ele crescer e se desenvolver como qualquer outro ser humano não o afasta de Deus, nem compromete sua filiação divina. Pelo contrário: é na vivência profunda de sua humanidade que Jesus manifesta sua condição de Filho de Deus.  

O texto de Lucas chama a atenção para a responsabilidade dos pais: “os pais de Jesus iam todos os anos à Jerusalém” (compromisso), ou “José tomou o menino e a mãe”.Não se vê um cônjuge somente, uma mulher abandonada como se fosse mãe solteira ou viúva de marido vivo, não impera o machismo, o individualismo, o comodismo ou outros males. 

Os pais perdem Jesus sem que o notassem (celular, internet, comodismo...), começam (angustiados) a procurá-lo (onde?), voltam à Jerusalém (comunidade, compromisso, espiritualidade). 

A família de Nazaré em busca de Jesus retrata a família cristã em busca de si mesma. Ela encontrará sua identidade só quando encontrar o Cristo, mestre do amor gratuito, a lhe ensinar que é preciso dar a vida, a fim de que o amor possa viver para sempre. 

a) Filhos e Famílias que se perdem 

“Por que me procuravam?  Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”  Desde pequeno, Jesus tinha a consciência de sua missão, de seu compromisso com o Pai. Os Evangelhos da infância de Jesus são sinais do que ele vai realizar como adulto, sintetizam toda sua atividade futura. Os filhos não pertencem aos pais, mas a Deus, que é a origem e o fim de toda a vida. É por isso que se batizam os filhos desde pequenos. Jesus, embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente, teve de aprender a discernir a vontade de Deus e realizar sua missão. 

Questionamento: Hoje a grande maioria dos filhos não ‘se perde’ no templo da comunidade, na ‘casa do Pai’, e, sim, nos templos do consumo, nos shoppings centers, danceterias, drogas, sexo irresponsável, bebidas, vícios em geral. O caminho que aprendem naqueles palácios da satisfação ilimitada e imediata não está no Evangelho, ou, talvez, sim: na parábola do filho Pródigo... 

Muitos são os pais e mães que vivem a dor de terem ‘filhos perdidos’.  Eles não se perdem sozinhos, são levados a se perderem. Se perdem por influenciadores que pregam e difundem valores e crenças que são contra a vida e a própria família. Muitas famílias estão tão desestruturadas que perderam a força do diálogo, pois, em casa, quem mais fala é o celular, as redes sociais, que têm lugar de destaque. 

b) Pedagogia da Família de Nazaré 

Jesus, Maria e José também tinham dificuldades, não viviam em eterna harmonia. O que temos que copiar é o estilo de vida, a forma como se relacionavam. Quando Maria encontra Jesus, que acabara de fazer uma ‘travessura’, ela não o interpela com gritos ou desespero. Maria tem o dom do diálogo e o trata com muito amor e carinho: “Meu filho, por que agiste assim conosco, olha que eu e teu pai estávamos angustiados, à tua procura”.A família moderna precisa ser reencontrada. E a solução é simples: está no amor e no diálogo. “Os pais devem ser para seus filhos os primeiros educadores da fé, mediante a Palavra e o exemplo” (LG, 11). 

Eis as palavras do Papa São Paulo VI recordadas por São João Paulo II:  

“Vocês ensinam às suas crianças as orações do cristão? Preparam os seus filhos, de comum acordo com os sacerdotes, para os sacramentos da primeira idade: Confissão, Comunhão, Confirmação? Acostumam-nos, se estão doentes, a pensar em Cristo que sofre, a invocar a ajuda de Nossa Senhora e dos santos? Recitam o terço em família? Sabem rezar com os seus filhos, com toda a comunidade doméstica, ao menos de vez em quando? O exemplo que derem com a sua retidão de pensamento e de ação, apoiado em alguma oração em comum, valerá por uma lição de vida, valerá por um ato de culto de mérito singular; vocês levam desse modo a paz ao interior dos muros domésticos. Lembrem-se de que assim edificam a Igreja” (FC, 60). 

Cada lar cristão tem, na Sagrada Família, o seu exemplo mais cabal; nela, a família cristã pode descobrir o que deve fazer e como deve comportar-se para a santificação e a plenitude humana de cada um dos seus membros. “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa muito simples, muito humilde e muito bela manifestação do Filho de Deus entre os homens. Aqui se aprende até, talvez insensivelmente, a imitar essa vida” (Paulo VI, Alocução em Nazaré – 05/01/64). 

A família é a forma básica e mais simples da sociedade. É a principal “escola de todas as virtudes sociais”. É a sementeira da vida social, pois é na família que se pratica a obediência, a preocupação pelos outros, o sentido de responsabilidade, a compreensão e a ajuda mútua, a coordenação amorosa entre os diversos modos de ser (GS,52). Com efeito, está comprovado que a saúde de uma sociedade se mede pela saúde das famílias. Esta é a razão pela qual os ataques diretos à família (como é o caso da introdução do divórcio, do aborto e outros males na legislação) são ataques diretos à própria sociedade, cujos resultados não tardam a manifestar-se. 


Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.  


São José, rogai por nós! 


Pe. Leomar Antonio Montagna 

Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR 

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR