21 de Maio de 2017

"A paz sem a Cruz não é a verdadeira paz"

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não como o mundo. Não se perturbe e nem se intimide o vosso coração ’’ (Jo 14,27).

Comentando este texto bíblico o papa Francisco diz: “A paz que nos dá o mundo  é uma paz sem tribulações; oferece-nos uma paz artificial, uma paz que se reduz à ‘tranquilidade’. É uma paz que somente olha para seus próprios interesses, suas próprias certezas, que não falte nada, um pouco como era a paz do homem rico. Uma tranquilidade que nos torna ‘fechados’, que não se vê ‘além’. O mundo nos ensina o caminho da paz com a anestesia: nos anestesiamos para não ver outra realidade da vida: a Cruz”.

Muitas de nossas autoridades estão anestesiadas pelo dinheiro, pela corrupção, pelo vida fácil e tranquila, sem nenhuma sensibilidade ao povo. Me vem agora a palavra do profeta Jeremias: “ Maldito o homem que confia no homem, e que busca apoio na carne, e cujo coração se afasta de Deus. Será como a árvore solitária no deserto que não chega ver a chuva” (Jer. 17,5). Que a justiça seja justa e que paguem a pena no deserto da penitenciária, sem ver a chuva e o sol.

Falando do texto de João evangelista o papa afirma: “A paz de Deus é um dom que nos faz seguir em frente. Jesus, depois de ter dado a paz aos discípulos, sofre no Jardim das Oliveiras e ali oferece tudo à vontade do Pai e sofre, mas não falta o consolo de Deus. O Evangelho, de fato, narra que lhe apareceu um anjo do céu para consolá-lo. A paz de Deus é uma paz real, que está na realidade da vida, que não nega a vida: a vida é assim. Há sofrimento, há os doentes, há tantas coisas ruins, há guerras, mas a paz de dentro, que é um dom, não se perde, mas se vai em frente carregando a Cruz e o sofrimento. Uma paz sem Cruz não é a paz de Jesus: é uma paz que se pode comprar. Podemos fabricá-la nós mesmos. Mas não é duradoura: termina”.

Diante de tanta dor, da frustração frente à falta de confiança nos nossos líderes, tomados por uma indignação sem tamanho, não podemos perder a paz do coração, entrar em desespero. Essa é a hora, como diz o papa, de abraçar a cruz deste sofrimento, assumir juntos o protagonismo de cidadãos e juntos buscar a luz no meio deste túnel que não vemos por aonde caminhar. A luz vem da ciência dos joelhos. Esta mais do na hora de clamar a Deus a luz. Suplicar ao Espírito Santo que ilumine quem por lei está à frente deste momento histórico sem precedentes. Não existe paz sem sofrimento. O sofrimento é demais, é altíssimo demais, pois é o sangue dos pobres que corre nas estradas da vida. Este país nasceu ao pé da cruz, e na cruz vai encontrar um novo caminho. Paulo Apóstolo escreve:  “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14,22).

Devemos entrar no Reino de Deus através de muitas tribulações. Santo Agostinho  diz “A vida do cristão é um caminho entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus”.

Como povo cristão, somos todos chamados a orar sem cessar, abrir os corações para a solidariedade, usar nossa memória para que nas próximas eleições não soframos de amnésia. Que Deus abençoe o nosso Brasil!


Dom Anuar Battisti