25 de Fevereiro de 2016

"Medo de prestar contas"

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Esta semana, em visita aos enfermos na Paróquia São Mateus, que ouvi essa expressão: “Não tenho medo de morrer, mas de prestar contas”. 

Já ouvi e muitas vezes, e de vários modos, a expressão: “Tenho medo da morte”; mas pela primeira vez ouvi dizer: “Tenho medo de prestar contas”. Essa será a porta de passagem pela qual todos nós seremos convidados a entrar.
Entrar pela porta estreita e diante do Pai Deus, ver e julgar em segundos, como se fosse um filme, toda a minha existência terrena, e no final ouvir das duas uma palavra: “vinde, bendito” ou “ide, maldito”.

O Julgamento, sem dúvida, será de um Pai que não quer a condenação e sim a salvação de todos; porém não deixa de ser um julgamento.

O Senhor não vai julgar pelas vezes que participamos da missa ou do culto; pelas vezes que pegamos a Bíblia para meditar ou preparar a pregação aos fiéis; pelas vezes que dobramos os joelhos para rezar no templo ou no quarto. O Senhor não quer saber se fizemos peregrinação para a Terra Santa, pelos santuários.

Nunca vai perguntar sobre nossos ritos e rituais, nossas fórmulas de louvores. Não seremos sabatinados sobre as contas bancárias e muito menos sobre os bens materiais. O julgamento será sobre uma única pergunta: Tudo o que fizemos e possuímos serviu para amar a Deus sobre tudo e o próximo como a nós mesmos?

Todas as nossas práticas religiosas, se não levarem para um amor maior entre nós, não servem para nada. Pelo contrário. Serão motivos do fogo eterno.

O amor verdadeiro se revela na prática da regra de ouro: “fazer aos outros o que gostaria que fizesse a nós.”
Portanto, o único critério a nos julgar será a nossa capacidade de atender às necessidades básicas dos mais necessitados.

“Estive com fome me destes de comer, estive com sede me destes de beber, estava nu e me vestistes, estava doente e preso viestes me visitar”. Porque todo o bem ou o mal feito ao próximo, é ao Senhor que fazemos, e ficará para a recompensa na eternidade, ou para a condenação eterna.

Não precisamos ter medo da morte. Por isso ainda é tempo de fazer deste tempo um recomeço. No tempo presente esta a oportunidade de refazer nossas escolhas e ser coerentes nas suas consequências.
O mundo precisa de cristãos autênticos, coerentes com o que professa com a boca, crê com o coração e efetiva nas ações.

De palavras e palavras, promessas e promessas o inferno já esta cheio. A tristeza de Deus está no coração humano petrificado pela prática hipócrita, onde as aparências são mais importantes.

Estamos assustados pela epidemia de “dengue”, e com razão precisamos criar juízo sobre essa urgência, mas a pior epidemia, que está matando multidões é a falta de amor autêntico e verdadeiro.

O coração ganancioso e prepotente, nunca será capaz de ver o outro como alguém a ser amado. Não precisa ter medo da morte; comece a preocupar-se com a prestação de contas no encontro com Aquele que te criou por amor e para amar.

 

Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá-PR