SOMOS CHAMADOS A OLHAR O OUTRO COMO DEUS O VÊ, NÃO COMO INIMIGO, MAS COM MISERICÓRDIA
Na Liturgia desta quinta-feira da XXIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1ª Leitura (1Cor 8,1b-7.11-13), que o cristão é uma pessoa que pensa nos irmãos; contrariamente, “ferindo a consciência frágil dos irmãos, voz pecais contra Cristo”. Ante um problema concreto da comunidade, relativo à relação fé-cultura, a resposta da ciência é clara: visto como os ídolos não existem, pode o cristão comer tranquilamente as carnes oferecidas a eles. Mas a ciência pode deixar a pessoa vaidosa, ao passo que a caridade edifica. O cristão que come carnes oferecidas corre o risco de escandalizar os irmãos na fé que ainda não tem profunda maturidade de julgamento. A caridade pede ao cristão adulto abstenha-se das carnes imoladas, como deverá abster-se de qualquer coisa lícita em si que seja prejudicial ao irmão. A razão é que a fé não é só um relacionamento pessoal com Cristo, mas um relacionamento comunitário. Se escandalizo o irmão, ofendo a Cristo. A fé é vida de amor.
O Evangelho (Lc 6,27-38), revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. Diante de uma cultura de morte: “dente-por-dente e olho-por-olho”, Jesus usa imagens fortes para dizer que não somos juízes, que também somos fracos e pecadores, e oferece alguns conselhos práticos que, se seguidos, certamente beneficiarão a nós mesmos. Se a vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade que geram lucro, poder, prestígio e violência, o que vamos seguir: os ensinamentos de Jesus ou esse contágio ideológico?
Somos chamados a olhar o outro como Deus o vê, não como inimigo, mas com misericórdia. Podemos discordar, combater posições, mas amar a pessoa. Não deixemos que os maus determinem o nosso modo de agir e nos contagiem. Jesus é o Senhor da minha vida, por causa Dele que amamos, perdoamos e somos livres, ninguém nos tirará a alegria de sermos livres. Enfim, se amar ‘os nossos’ já é difícil, então, e os chatos, os intragáveis? Não os amaremos se contarmos somente com nossas forças, temos que contar com a força do alto, o Espírito Santo virá em nosso socorro.
Concluindo, podemos pensar: Se Jesus ofereceu tudo o que tinha de melhor (o Reino) aos pobres, fracos, aflitos, rejeitados... e nós e a sociedade, o que lhes damos? Podemos dizer que estamos honrando o nome de cristãos? Numa sociedade individualista, materialista, hedonista, violenta e preconceituosa, ainda tem lugar a proposta de Jesus? Agimos obedecendo absolutamente a Deus ou ao nosso ego, nossas ideias, acontecimentos ou alguma palavra de algum repórter policial ou de algum líder que quer combater a violência implantando os mesmos métodos violentos?
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá-PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi-PR




