A RECUSA À PALAVRA DOS ENVIADOS DE JESUS É RECUSA E DESPREZO A CRISTO E AO PAI QUE O ENVIOU
Na Liturgia desta sexta-feira, XXVI Semana do Tempo Comum, vemos na 1ª Leitura (Jó 38,1.12-21;40,3-5), que assim como Jó, nós, também, somos atingidos por intempéries ao longo de nossa existência, seja na família, na saúde, nos bens materiais etc. Mas Deus, que cuida de nós, sempre nos responde com seu amor infinito: “O Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade”. Deus nos responde, nos questiona, para que cresçamos, nos tornemos mais humanos, “novas criaturas”, por meio dos fatos que nos acontecem. A resposta que cada um deve dar está dentro, no mais íntimo do ser, ou mesmo ao nosso redor. O mundo antigo já não mais nos incomoda, desapareceu, “se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2Cor 5,17).
Deus reconduz Jó a justas medidas de indagação. Como poderia perceber o mistério do mal, se é incapaz de descobrir o das coisas e da natureza? A Jó cabe unicamente conservar a atitude de silêncio, porque este é o lugar de encontro com Deus. O silêncio é sabedoria e contemplação. O ser humano deve aceitar que haja zonas de mistério no conhecimento das coisas. Hoje, reduzido tudo à utilidade, à funcionalidade, perdemos o sentido do mistério. Ao lado da coerência das leis físicas, existe a angústia do desconhecido e, além da angústia, a expectativa de um ainda mais de cada coisa, de um horizonte sem limites. Este horizonte é o Inteiramente Outro, o Absoluto, que Cristo nos mostra ser um Pai que ama e ressuscita seus filhos.
No Evangelho (Lc 10,13-16), vemos que os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Nova ficarão fora da nova história.
Jesus também lamenta que cidades de Israel que puderam contar com sua presença tenham rejeitado a mensagem do Reino e da justiça de Deus, mensagem essa concretizada na atividade de Jesus junto aos pobres. Por isso serão julgadas mais severamente que outras cidades estrangeiras, denunciadas em textos proféticos, pois afinal estas não tiveram a mesma oportunidade dada às cidades de Israel.
A recusa à palavra dos enviados de Jesus é recusa e desprezo a Cristo e ao Pai que o enviou. O Concílio Vaticano II ensina que “os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo... os bispos, por instituição divina, sucederam aos apóstolos como pastores da Igreja, e quem os ouve, ouve a Cristo; mas quem os despreza, despreza Cristo e aquele que enviou Cristo” (LG 20). O que dizer, então dos católicos que desprezam o Papa, alguns, em suas orações assim se expressam: “Senhor, iluminai-o ou eliminai-o! Desprezam a CNBB e muitos dos nossos líderes de Movimentos Sociais, acusando-os de comunistas, esquerdistas etc. O mesmo Concílio na Constituição Dogmática Lumen Gentium, Sobre a Igreja, assim se expressa sobre estas pessoas que estão na Igreja, mas só de corpo e não por inteiro:
“São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos. Não se salva, porém, embora incorporado à Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na Igreja pelo ‘corpo’, não está nela com o coração. Lembrem-se, porém, todos os filhos da Igreja que a sua sublime condição não é devida aos méritos pessoais, mas sim à especial graça de Cristo; se a ela não corresponderem com os pensamentos, palavras e ações, bem longe de se salvarem, serão antes mais severamente julgados” (LG, 14).
Também o Papa São João Paulo II, na sua Carta Encíclica VeritatisSplendor, sobre algumas questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja, rejeita as mentalidades que usam as redes sociais para depreciar os ensinamentos dos seus representantes constituídos:
“O ensino da doutrina moral implica a assunção consciente destas responsabilidades intelectuais, espirituais e pastorais. Por isso, os teólogos moralistas, que aceitam o encargo de ensinar a doutrina da Igreja, têm o grave dever de educar os fiéis para o discernimento moral, para o empenhamento no verdadeiro bem e para o recurso confiante à graça divina.
Se a convergência e os conflitos de opinião podem constituir expressões normais da vida pública, no contexto de uma democracia representativa, a doutrina moral não pode certamente depender do simples respeito por um tal processo; ela, de fato, não é absolutamente estabelecida, seguindo as regras e as formas de uma deliberação de tipo democrático. A discordância, feita de interesseiras contestações e polêmicas através dos meios de comunicação social, é contrária à comunhão eclesial e à reta compreensão da constituição hierárquica do Povo de Deus. Na oposição aos ensinamentos dos Pastores, não se pode reconhecer uma legítima expressão da liberdade cristã nem da diversidade dos dons do Espírito” (VS, 113).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá-PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi-PR




